POESIA: APROPRIAÇÃO
A virtude está presente na flor que se abre ao alvorecer
Naquele mais querido ente que nos faz enternecer
Na grandiosidade humana que nos impede esquecer
O quão idiotas somos se a violência nunca nos entristecer
Dez milhões a Bélgica assassinou e o Congo solitariamente chorou
Seis milhões o nazismo dizimou e o mundo inteiro ainda chora
Oras, a cor da pele difere o martírio do passado e o choro d’agora?
Ocidente tua inumana escolha na tristeza da tu’alma mora?
Em tempos remotos a cultura africana ignoravas, desprezavas, maltratavas
Atabaques, ganzás, agogôs, tamborins; das escolas de samba querias o fim
Dizias ser antros de prostitutas, desordeiros, maconheiros, malandros e afins
E mandavas a polícia, vosso eterno covarde braço armado proclamar o nosso fim
Nos terreiros de candomblé a perseguição e o constrangimento, também era assim
Depois de cinco séculos que tanto perseguistes e excomungastes
Às culturas de matrizes africanas surpreendentemente vos aproximastes
Como quem nada quisestes, fostes chegando e aprendestes sem desgastes
Hoje são diretores, mestres salas e portas bandeiras, verdadeiros baluartes
Do sagrado africano, vejam só!, babalorixás?… também isto usurpastes
O paradoxal é que sequer minguas ao povo negro, quem tudo lhe ensinastes
Um emprego decente, uma saúde condizente, uma vida de nobres destaques
Ao contrário, pisas do vosso pedestal n’almas sorridentes, afáveis, sem igual
Saibas que haverá o momento da negra consciência d’uma cidadania como tal