DANIELLE SANTTOS

No mês da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha do Clã da Negritude

 No mês da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho, reforça a luta histórica das mulheres negras por sobrevivência em uma sociedade estruturalmente racista, misógina e machista – nos faz refletir sobre a vida dessas mulheres.

Neste mês de julho de 2022, escolhemos 25 mulheres negras que estão se destacando no fortalecimento da população negra em diversas áreas do saber, queremos que o mundo conheça suas histórias e que outras mulheres possam se espelhar e inspirar em suas lutas e experiências de vida.

Nossa entrevistada de hoje é Danielle Santtos;
Advogada, especialista em LGPD ,Adm. do coletivo advogadas negras brasil.Membro da Cevenb da OABRJ, ex- presidente da comissão de jovens advogados negros da OAB Bangu, ex-vice presidente na comissão de advogadas negras da OABBangu, sou mentora da comissão de mentoria jurídica da OABRJ, faço parte da ANAN/RJ e faço parte da comissão de igualdade racial e intolerância religiosa da OAB subseção Madureira/Jacarepaguá.

(…) a sociedade que nos trata de forma errada; E as mulheres pretas estão se distraindo do poder que temos juntas e unidas. Falta isso, união e sororidade. Uma pela outra, repito!

01. CN. Para você o que significa o mês da mulher negra latino-americana e caribenha. Qual a importância para às mulheres negras?
R: Significa reconhecimento do valor histórico e da luta das mulheres negras, que derramaram suor e sangue no passado para que hoje em dia mulheres como eu fossem livres para opinar e exigir respeito e dignidade na sociedade. A importância da exaltação das mulheres negras em datas comemorativas com esta, é a união, motivação e empoderamento de mulheres negras.

02. CN. Em sua opinião as campanhas do mês da mulher negra latino-americana e caribenha são adequadas?
R: Sim, e muito! Haja visto que temos um dia para lembrarmos das nossas antepassadas, e olhar para o futuro com o ânimo renovado, dia também para sempre se lembrar que apesar dos pesares, o quão forte fomos, somos e sempre seremos.

03. CN. Em sua opinião o que é mais urgente para as mulheres negras?
R: Respeito, atenção, empatia, e amor. Que a sociedade nos respeite, que tenhamos a atenção das pessoas ao redor, que recebamos empatia nos meios de trabalho/estudo e que sejamos amadas pelos nossos parceiros para não sermos vítimas de abusos morais e físicos. E por fim, que sejamos pretas unidas, uma pela outra! 

04. CN. Como é ser uma mulher negra administradora do coletivo advogadas negras brasil?
R: Tem sido muito gratificante. Conheço inúmeras histórias, várias mulheres e meninas negras vem somar, sejam em lives, seja no bate papo no chat ou pelo simples fato de ver suas postagens empoderadas. É muito gostoso não se sentir só nas mídias sociais.

05. CN.  Quais são as principais metas do coletivo advogados negras do Brasil?
R: Promoção e valorização das mulheres negras de todas as áreas, mas com ênfase nas negras de carreira jurídica e advogadas. A idéia central é repudiar, falar e combater no que for possível o racismo.

06. CN. Em sua gestão o que fez as advogadas negras da OAB/Bangu? 
R. Juntamente com minha presidente, aproximamos as advogadas negras do acesso à ordem, que é a nossa casa. Promovemos a inserção, união e visibilidade das colegas negras.

Dra. Danille Santos em seu escritório

Podemos sim sambar, ou usar um micro biquíni por ser sim uma linda mulher, mas  nunca nos definirá, pois somos muito além disso!

Dra. Danielle Santtos

07. CN. Quais são os caminhos para que as mulheres ocupem cargos de lideranças nas empresas?
R: Dedicação, estudar a findo para estar sempre um passo à frente e ao conseguir êxito, puxar junto outras mulheres. Se impor em ser arrogante, ser firme, sábia e educada.

08. CN. Como está a situação da mulher negra dentro dos cargos diretivos da OAB/RJ?
R: Aqui na OAB/RJ estamos vivendo algo inédito e muito gratificante, temos na diretoria uma mulher negra, Dra. Mônica Alexandre como secretária adjunta, e temos como presidente da OAB mulher a Dra. Flávia Ribeiro. Temos também abertura da presidência em sua gestão, para criarmos eventos com temática negra, e fazermos parte dos eventos e comissões da casa que não sejam da causa negra. Eu mesma além das comissões com temática negra, como a cevenb por exemplo, faço parte da comissão de mentoria jurídica. Estamos caminhando, e isso me alegra pois sei que o mérito é do nosso povo preto que batalhou por isso.

09. CN. É difícil ser uma mulher negra no estado de Rio de Janeiro?
R: Muito, há uma ideia machista, racista e elitista de que somos inferiores, de que não somos para casar ou de que não temos capacidade intelectual. A mulher carioca é vista como a gostosa de bunda de fora sambando e sempre pronta para satisfazer fantasias sexuais de turistas. Podemos sim sambar, ou usar um micro biquíni por ser sim uma linda mulher, mas  nunca nos definirá, pois somos muito além disso!

Lute por você, e por todas nós, estamos fazendo tudo isso para você poder pegar o bastão e dar lindamente continuidade. Você é capaz de tudo!

Dra. Danielle Santtos

10. CN. Em sua opinião, o que as mulheres negras estão fazendo de errado? 
R: Não diria errando, diria que a sociedade que nos trata de forma errada; E as mulheres pretas estão se distraindo do poder que temos juntas e unidas. Falta isso, união e sororidade. Uma pela outra, repito!

11. CN. “A solidão da mulher negra” é um tema importante para às mulheres, se sim, por que?
R: Sim, é muito importante, pois infelizmente é real. A mulher negra é a que mais morre vítima de violência doméstica ou relacionada à segurança pública, são o maior número de mães solos, e menor número quando se trata de cargos altos. Temos um maior número de solteiras, um menor número daquelas com formação superior ou altos salários. Acho importante falarmos, para discutirmos o assunto e buscar formas de melhorias e conscientização. E com isso tentar amenizar a solidão dessa irmã.

12. CN. Como é ser advogada, coordenadora, líder, militante junto a outras atividades?
R: É estar sempre antenada ao que acontece ao meu redor, é batalhar por melhorias, lutar contra o racismo, mostrar meu valor e com isso buscar alavancar outras mulheres negras, tentar sempre da melhor forma ser um exemplo e uma rede de apoio para as demais mulheres negras e mulheres no geral.

Posse da comissão de direito contábil OAB/RJ – 12/06/2019. Dra. Danille Santos assinando documento.

13. CN. Em sua opinião qual é a importância da ANAN para a advocacia negra brasileira?
R: De dar oportunidade, visibilidade e inspiração ao nosso povo preto. Saber que temos um lugar nosso, feito pelos nossos semelhantes e para nós. A ANAN promove a união e valorização dos negros, nos dá o espaço que não encontramos nas mídias e nos meios de ensino. Representatividade é o que sinto ao ver o trabalho da ANAN, me sinto fazendo parte de algo valioso e necessário para termos voz.

14. CN. Quais são os sonhos e planos da Dra. Danielle Santos para o futuro?
R: Desejo ter sempre saúde, paz, ânimo,  e cada vez ter mais oportunidades para levar meu conhecimento, meu relato e incentivo as mulheres e meninas negras. Sonho em ter um futuro sem nenhum racismo ou desigualdades; uma sociedade tolerante, com muito respeito, equidade e empatia. Espero ter um marido amável, filhos saudáveis e que encontrem mais facilidade em ser quem são, com toda sua negritude e graça. Espero escrever um ou mais livros e concluir meu Doutorado, o céu é o limite, ou melhor, limites? Não conheço essa palavra!

15. CN. Que conselho você daria para uma jovem negra?
R: Nunca desista, o caminho é árduo, mas você não está sozinha! Lute por você, e por todas nós, estamos fazendo tudo isso para você poder pegar o bastão e dar lindamente continuidade. Você é capaz de tudo!

16. CN. Nos indique três livros que mudaram a sua vida?
R: 1- Pequeno manual antirracista – Djamila Ribeiro
2- Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil – Sueli Carneiro
3- Minha História – Michelle Obama

capa

Entrevista concedida por Danielle Santtos ao Clã da Negritude. As perguntas foram feitas e respondidas por texto, formato virtual. 20 julho de 2022.

Lembrete: Os comentários não representam a opinião do Clã da Negritude; a responsabilidade é do autor da mensagem.

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