PATRÍCIA ANASTACIO
Mês da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha do Clã da Negritude, comemorado no dia 25 de julho, reforça a luta histórica das mulheres negras por sobrevivência em uma sociedade estruturalmente racista, misógina e machista – nos faz refletir sobre a vida dessas mulheres.
Neste mês de julho de 2022, escolhemos 25 mulheres negras que estão se destacando no fortalecimento da população negra em diversas áreas do saber, queremos que o mundo conheça suas histórias e que outras mulheres possam se espelhar e inspirar em suas lutas e experiências de vida.
Nossa entrevistada de hoje é a Patrícia Anastácio;
Breve apresentação: advogada, associada da ANAN, Membra Efetiva da Comissão Especial da Advocacia Trabalhista da OAB – Gestão 2022/2024; Membra Efetiva da Comissão do Advogado Assalariado da OAB – Gestão 2022/2024, Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela USP.
01. CN. O que significa o mês da mulher negra latino-americana e caribenha. Qual a importância para às mulheres negras?
Patrícia Anastacio: O mês de julho é marcado por conquistas, lutas, esperanças e visibilidade das questões que envolvem as necessidades da mulher negra, o reconhecimento de sua importância na sociedade civil. Ainda há muito o que avançar.
02. CN. Em sua opinião as campanhas do mês da mulher negra latino-americana e caribenha cumprem seus objetivos?
Patrícia Anastacio: Sim, as campanhas são necessárias para que toda a sociedade tenha conhecimento da nossa luta, da nossa história, conquistas e vitórias.
03. CN. O que te levou para a advocacia?
Patrícia Anastacio: Eu sempre soube que a advocacia me daria uma oportunidade de vida melhor, além da possibilidade da atuar na Justiça Social.
04. CN. Em sua opinião o que é mais urgente para as advogadas negras?
Patrícia Anastacio: Reconhecimento e maiores oportunidade junto ao mercado do trabalho.
05. CN. Como às mulheres negras estão representadas na atual gestão da OAB/SP, justifique?
Patrícia Anastacio: Atualmente, as mulheres negras ainda não ocupam cargo estratégicos junto a OAB.
06. CN. O racismo um dia terá fim?
Patrícia Anastacio: Tenho fé, mas não acredito no fim.
07. CN. O que poderia ser feito para auxiliar o(a) negro(a) na busca da aprovação nos concursos públicos?
Patrícia Anastacio: O estudo, a disciplina, além da questão financeira ainda são obstáculos para a inserção das mulheres negras em cargos de Poder.
08. CN. O que a Associação Nacional da Advocacia Negra poderia fazer que a OAB ainda não fez?
Patrícia Anastacio: Dar voz as advogadas negras.
09. CN. Se pudesse mudar uma coisa no mundo, o que mudaria?
Patrícia Anastacio: A desigualdade social e o racismo.
10. CN. Qual é a sua opinião sobre a pessoa jurídica (PJ), e a uberização do trabalho?
Patrícia Anastacio: Tanto a PJ e a uberização são formas de exploração da mão de obra sem a proteção do Estado.
11. CN. O direito do trabalho se assenta na exploração da mão de obra do trabalhar pelo empresário, você entende que este é o melhor modelo ou existe outras possibilidades- quais?
Patrícia Anastacio: O direito do trabalho é o ramo que tem como princípio da proteção do hipossuficiente (que é o trabalhador), o capitalismo não sobrevive com o trabalho humano, e o modelo trabalhista que rege nosso país ainda visa os interesses da classe empresária.
Tivemos a reforma trabalhista, em 2017, que de forma drástica reduziu os direitos fundamentais dos trabalhadores, e a política de melhoria para o empresariado não tem como objetivo a melhora das condições do trabalho.
Não temos o melhor modelo trabalhista, ainda há muito o que avançar, o projeto Revoga Já é necessário e imediato, mas não só a revogação é necessário cumprir o que determina do texto Constitucional (o direito do trabalho é um direito fundamental e não pode sofrer redução).
As melhores possibilidades sempre são melhores condições à classe trabalhadora.
12. CN. “A solidão da mulher negra” vai muito além da área afetiva, você já sofreu algum tipo de solidão, qual?
Patrícia Anastacio: Sim, sinto essa solidão nos lugares que frequento (não há mulheres negras), não me vejo representada na TV, nas revistas, clubes e no Poder Judiciário.
13. CN. Qual foi a principal lição de vida que seus pais te deixaram?
Patrícia Anastacio: Lutar e resistir sempre.
14. CN. Quais são os sonhos e planos da Patrícia Anastacio para o futuro?
Patrícia Anastacio: Meus planos? Nossa!, Meu marido fala que eu sou uma eterna sonhadora, o primeiro sonho é manter a saúde em dia (depois de longos anos, eu descobri que sem saúde não há nada nem vida).
Estamos no processo de adoção de dois filhos, então o plano atual é ter condições emocionais para essas duas crianças que estão prestes a chegar, eu nunca sonhei com a maternidade e agora estou na expectativa dessa nova fase.
Já no lado profissional, meus planos é continuar atuando, e levando um pouco de esperança para os meus clientes (atuo na área trabalhista), talvez ter um escritório de advocacia com uma banca de advogados negros (isso é um sonho).
Além das viagens.
15. CN. Que conselho você daria para uma jovem negra?
Patrícia Anastacio: Não tenha medo, estude, se prepare que o sucesso é uma consequência do seu trabalho.
16. CN. Nos indique três livros que mudaram a sua vida?
Patrícia Anastacio: Os Miseráveis de Victor Hugo (foi um divisor de águas na minha vida); Nelson Mandela (longa caminhada até a liberdade) e Mulheres, Raça e Classe – Angela Davis.
Entrevista concedida por Patrícia Souza Anastacio ao Clã da Negritude. As perguntas foram feitas e respondidas por texto, formato virtual. 26 julho de 2022.
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