ANDREIA DE OLIVEIRA
Mês da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha do Clã da Negritude, comemorado no dia 25 de julho, reforça a luta histórica das mulheres negras por sobrevivência em uma sociedade estruturalmente racista, misógina e machista – nos faz refletir sobre a vida dessas mulheres.
Neste mês de julho de 2022, escolhemos 25 mulheres negras que estão se destacando no fortalecimento da população negra em diversas áreas do saber, queremos que o mundo conheça suas histórias e que outras mulheres possam se espelhar e inspirar em suas lutas e experiências de vida.
Nossa entrevistada de hoje é Andreia de Oliveira
Breve resumo: Turismologa – IFSP-SP Coach – SENAI. Promotoras Legais Populares (PLPS) / Diadema – SP / Ativista Educadora Social Voluntária / Organização Marcha Mulheres Negras de SP, do Orgulho Crespo-SP & Londres. Fundadora do Grupo de Mulheres Educafro Brasil / em 2019 / Criadora do Perfil “Vozes da Rexistência” em 2020. Sou Embaixadora Afro Brasileira Internacional pela COBLAC – 2021 / Banca Heteroidentificação UFABC / oratória – OAB / Direito Humano no Contexto Brasileiro – USP Social Mídia SEBRAE-SP/ CRESPURA: BELEZA NEGRA SEM QUÍMICA – UFU / Enfrentamento da Violência nas Escolas: Mediação Escolar e comunitária CRAVI/Pericia Criminal – UNIFESP.
01. CN. O que significa o mês da mulher negra latino-americana e caribenha. Qual a importância para às mulheres negras?
Andreia de Oliveira: O significado do mês ou da data de Julho, voltado para essa questão Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, seria a liberdade de se expressar, de refletir, fortalecer, reforçar as organizações no contexto, reforçar os laços, trazer visibilidade para a luta, pressionar poderes públicos. A importância dessas ações para às mulheres negras, é pelo fato de se provar por pesquisas que as mulheres negras são na maioria das vezes que chefiam as casas e as mais exploradas, negligenciadas social e economicamente.
02. CN. Em sua opinião as campanhas do mês da mulher negra latino-americana e caribenha cumprem seus objetivos?
Andreia de Oliveira: Sim, atualmente as campanhas do mês da mulher latino-americana e caribenha, representa a resistência das mulheres e a grandeza do legado de suas ancestrais. Por exemplo, Julho das Pretas, para visualizar a importância de demarcar as existências e resistências das mulheres negras, trazem a reflexão acerca das desigualdades gritantes que as afetam. Nesse sentido, as campanhas em questão, com suas variadas intersecções e especificidades, poderão galgar condições contrárias às suas adversidades, associadamente almejam um projeto político de sociedade, livre desse sistema fincado em múltiplas opressões, sejam: patriarcais, colonialistas, LGBTfóbicas, entre outros.
03. CN. As mulheres negras são solidárias, podemos falar em sororidade?
Andreia de Oliveira: Acredito que sim, pois a sonoridade, de maneira geral, diz respeito à união das mulheres. Envolve um sentimento de irmandade, empatia, solidariedade e companheirismo. E percebo todas essas ações, entre outras, nas atitudes das mulheres, e ativamente nas mulheres negras.
04. CN. O que mais te incomoda no movimento negro atual?
Andreia de Oliveira: O que me incomoda no movimento negro, é a individualidade, as disputas entre eles. Sei que temos muitas mazelas sociais, e muitas das vezes uma temática política, econômica, social, educacional…, não dá conta da luta por direitos, precisamos dos movimentos bertanos, dos movimentos cicranos, entre outros movimentos, mas quando as concepções das lutas não dialogam entre si, eles se afastam, fica cada um por si. Isso complica, porque se estou lutando por algo para um público e não tenho ajuda, minha caminhada fica mais difícil.
E sabemos que juntos, nos tornamos mais fortes. No entanto, há muitas discórdias entre os movimentos sociais, essas atitudes nos levam ao distanciamento.
05. CN. Desde quando você começou a militar e, o que te levou a esse engajamento?
Andreia de Oliveira: Milito desde a minha adolescência, e o que me levou a ser uma militante ativista, realmente foi quando eu tive a oportunidade de conhecer a Educafro, a forma de como os professores trabalhava, a equipe do cursinho, a Associação Educafro, ministrava o cursinho me chamou muito a atenção, para alem de estudarmos para conseguir uma fazer uma faculdade pública, eles faziam com que nos sentíssemos representados, com todas as lutas de causa, por exemplo, as viagens para Brasília, nos introduzir dentro dos três poderes, para lutarmos pelos nossos direitos educacionais, me marcaram, e me engajou na militância, ao longo dos anos, eu me desloquei para as lutas sociais, de classe, entro outras lutas pelas mulheres, mas eu Sou Educafro, mesmo que não esteja no espaço continuamente, ou vou, nos espaços que eu entro, levo a bandeira da Educafro. Alem disso tenho muito carinho Pelo Frei David.
Sem dizer que o ativismo de hoje é fruto de distintas mobilizações populares com natureza política que aconteceram ao longo dos anos no mundo inteiro, sendo Nacional e Internacional.
06. CN. No tempo em que você passou ao lado do Frei Davi, qual foi a maior lição que aprendeu?
Andreia de Oliveira: Como eu já mencionei acima, a Educafro é o Frei David, o Frei David, é a Educafro, um está interligado com o outro, apesar de toda uma diretoria administrativa estar envolvida com a associação, em minha percepção quem dá vida a associação é o Frei David, ele consegue com toda a sua experiência política, social, educacional, as estratégias política, contagiar as pessoas que estão em volta dele, com muita vontade de conseguir com que os PPPBs (pobres, pretos, periféricos e os brancos pobres, consigam estudar, consigam trabalhar, se acender na vida), ele faz a gente querer lutar, ele faz a gente ter esperança que conseguiremos atingir nossos objetivos. Eu não digo que façamos ou conseguimos tudo de maneira perfeita, mas ao longo do tempo, quando lutamos por algo, quando insistimos em buscar nossos direitos sejam eles políticos, sociais, educacionais, pessoais, deixamos nossas marcas, construímos nossa história… Eu trouxe para a minha vida muitas coisas que apreendi, compreendi no tempo em que estava dia- a- dia, na Educafro, com o Frei David, não consigo pontuar somente uma lição de vida! Como eu disse, tenho muito carinho por ele.
07. CN. Como eram ou como são seus pais?
Andreia de Oliveira: Meus pais eram e/são minha inspiração de luta superação, para eu fazer a diferença na sociedade.
08. CN. Se a falta de dinheiro não fosse um empecilho, o que você faria?
Andreia de Oliveira: Com a experiência e vivência que eu tenho agora, pensando em um mundo de abundância, acredito que eu poderia auxiliar muitas pessoas em vários sentidos. Pois não podemos dizer que dinheiro é um problema, mas sim a solução de muitas transformações pessoais, sociais, entre outras.
09. CN. Cite três mulheres que são fonte de inspiração para você?
Andreia de Oliveira: Helena Rosa de Oliveira – mãe. Mylla Moreira – amiga luta contra câncer mama. Dona Maria do Carmo Valério. Fundadora da empresa de cosméticos Muene, a primeira marca negra no país.
10. CN. Como está o grupo de mulheres da Educafro hoje e quem o lidera?
Andreia de Oliveira: Desde a sua criação, a Educafro, já perpassou por muitos grupos de mulheres, a Associação Educafro, tem grupos de mulheres se acendendo e grupo de mulheres que são da velha guarda, como eu, temos grupo no whats’sapp, sempre compartilhamos informações com vários conhecimentos no grupo, fortalecemos as empreendedoras negras, compartilhamos formações, entre outro assuntos pertinentes a nossa sociedade. Nos grupos temos as mulheres que são administradoras, temos regras também, o respeito, a ética, a solidariedade, a sororidade, sempre andam junto com a gente. Quando não concordamos com algo, logo pedimos conselho ao Frei David. Mas na verdade, a liderança é de forma compartilhada. Nesse sentido, fortalecemos a troca de experiências de todas as áreas possíveis e incentivamos o desenvolvimento de forma ampla, dando voz a todas dentro do grupo.
11. CN. Qual é o seu combustível para continuar super engajada nas causas sociais e raciais?
Andreia de Oliveira: Na verdade, o combustível é desenvolvido para uso dependendo das causas sociais e raciais que nos ocupamos ao longo do período, ou seja, política social, econômica, educacional, política de saúde, de alimentação, mas posso falar de forma técnica de Seis Pilares, que é definido como estratégia para o negócio quando falamos de Empreendedorismo, devemos sempre ter como combustível, ao se oferecer um produto: pensar na cultura e origens do nosso público, no gênero, observar as gerações, notar questões raciais, observar a orientação sexual e olhar para as pessoas com deficiência elaborando um produto inclusivo.
12. CN. Qual foi a pessoas que mais te ajudou dentro do movimento negro?
Andreia de Oliveira: Não tem como eu nomear, pois todas as pessoas que perpassaram pela minha vida no movimento negro de modo positivo ou negativo, tiveram ou tem um cunho de grande relevância ao me auxiliar ser o ser humano ou a mulher que sou hoje, muita aprendizagem com os bons momentos, com os maus momentos. Tenho certeza que tenho muito que aprender com todas as pessoas que ainda vou conhecer. Para minha pessoa a vida é feita de troca de conhecimento, de experiências, entre outros.
13. CN. Que conselho você deixaria aos jovens de hoje?
Andreia de Oliveira: Não pretendo aconselhar, mas sugerir, para que os jovens estudem, busquem conhecimento, informações, lute pelos suas ideias, seus objetivos, não desistam nunca, se o caminho que estiver percorrendo não estiver dando certo, procure outro, ou busque um atalho, pensando que muitas vezes ao trilhar os caminhos podemos errar, ou vacilar, mas somos seres humanos abertos para reconhecer onde erramos e aprender com os nossos erros e os erros de outrem também. Contudo, respeitar pai e mãe é fato, independente do que eles possam fazer por nós ou não fazer nada. Ser solidário, respeitoso com outrem.
14. CN. Existe alguma coisa que você gostaria de dizer e que nunca lhe foi perguntado?
Andreia de Oliveira: No momento não.
15. CN. Quais são os sonhos e planos da Andreia de Oliveira para o futuro?
Andreia de Oliveira: No momento, tenho planos de fazer curso de línguas, penso em fazer mestrado, entre outros cursos acadêmicos. Fazer uma viagem para a África, talvez.
16. CN. Indique-nos três livros que mudaram a sua vida?
Andreia de Oliveira: 1º Encarceramento em Massa – Juliana Borges / 2º O que é empoderamento? – Joice Berth / 3º Apropriação Cultural – Rodney Willian Eugênio.
Entrevista concedida por Andreia de Oliveira ao Clã da Negritude. As perguntas foram feitas e respondidas por texto, formato virtual. 30 julho de 2022.
Maravilhosa!