O RACISMO NO RETROCESSO DO GOVERNO PAULISTA

A maior população negra do país vive em São Paulo, berço de lutas e de movimentos históricos em defesa dos direitos humanos: como a criação da Frente Negra Brasileira na década de 1930, o surgimento do Movimento Negro Unificado em 1978, formação da Educafro na década de 1970, e criação órgão de governo de promoção da igualdade racial: Conselho da Comunidade Negra do país em 1984. Uma história de muita luta, mas ignorado pelo governador eleito por São Paulo Tarcísio de Freitas.

Tarcísio apresentou oito grupos temáticos: agricultura e abastecimento; desenvolvimento social, mulheres e PCD (pessoa com deficiência); educação, cultura e esportes; segurança pública e administração penitenciária; turismo; gestão, desenvolvimento econômico, ciência e tecnologia e finanças; meio ambiente, habitação e infraestrutura; e saúde.

Com uma equipe de transição de 105 pessoas, todas brancas, não há uma menção a área de direitos humanos, nem ao combate ao racismo, diversidade ou a promoção da igualdade racial.
Com a montagem de sua equipe de transição reafirma seu propósito de ignorar a história da luta antirracista e os avanços no campo da diversidade nas empresas privadas. Como se a população de negra de quase 17 milhões de pessoas não merecesse uma só linha na formulação de políticas públicas que combatam as desigualdades raciais e a intolerância religiosa.

Ao analisar as equipe de transição, há o núcleo de Desenvolvimento Social e Direitos da Pessoa com Deficiência, que mas se aproxima da temática de direitos humanos, mas está constituído por religiosos fundamentalistas que demonizam as religiões de matrizes africanas.
A ala bolsonarista está presente e deverá ocupar cargos importantes. Entre eles, a lista inclui os deputados estaduais Frederico D’Ávila (PL) e Valéria Bolsonaro (PL); os deputados federais Rosana Valle (PL), Capitão Derrite (PL) e Cezinha de Madureira (PSD); a vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos); e o ex-secretário Filipe Sabará (Republicanos).

Devemos nos preparar para resistir à ação do racismo sistêmico por parte do governo de São Paulo. A tática é a mesma do governo Bolsonaro: desconstruir, ignorar a existência de nossa história de lutas e incorporar “ Sergios Camargos” para fazer o trabalho sujo de destruir as conquistas do movimento negro.
Não tenhamos ilusão, não há diálogo possível com quem tem convicção que vivemos em uma democracia racial. A luta será difícil e sangrenta. Muitos jovens negros continuarão a ser vítimas do genocídio praticado pelas forças policiais paulistas. Não podemos esquecer da promessa do governador de retirar a câmeras dos uniformes da polícia.

Na educação teremos o mesmo clima de repressão que assistimos no estado do Paraná, com a indicação do secretário Renato Feder, que na sua equipe de transição inclui deputada bolsonarista e Líder do país contra ‘doutrinação’ do ensino.

Uma escola que hoje pratica e reproduz o racismo em suas salas de aulas, receberá o incentivo do governo bolsonarista. Como poderemos garantir a implementação da Lei 10639 de 2003, que propõe o ensino da História da África e a História do negro no Brasil?

Seremos perseguidos em nossos terreiros por evangélicos intolerantes e racistas, agora com apoio do governo estadual. Se a situação de intolerância religiosa era uma ameaça, agora religiosos fundamentalistas como servidores públicos usarão seu poder para reprimir a liberdade religiosa. Que os Orixás nos protejam.

Diante do quadro que se aproxima teremos que ter uma postura guerreira e invocar Zumbi, para fazermos Palmares de novo.

Ivair Augusto Alves dos Santos

Cada militante e ativista negro ou negra terá que ficar atento, pois somos muitos, quando nos unimos. Ninguém larga a mão de seu companheiro de luta. A situação é preocupante, não se trata de uma postura alarmista, mas de atenção diante da guerra que estaremos enfrentando no Estado de São Paulo.
As iniciativas do governador Tarcísio na formação de sua equipe de transição, na formulação de suas ideias que estão nos seu Programa de governo, na articulação com apoio de policiais, evangélicos e de bolsonaristas radicais irão reproduzir o governo federal em São Paulo. Não deixa dúvida. Devemos nos preparar para o pior.

O nosso estado de ânimo deve prevalecer pois a extrema direita trabalha para destruir nossas conquistas utilizando o ódio como ferramenta para fazer política pública. A extrema direita é racista, homofóbica e machista.

Cabe a nós juntarmos as forças democráticas do país e internacionalmente para resistir à violência do racismo institucional. A extrema direita não esconde seu racismo e sua violência contra a população negra.

Ivair Augusto Alves dos Santos

Todos os bolsonaristas desempregados do governo federal virão para São Paulo para se organizar e voltar ao poder. Não nos iludamos com o discurso de que a equipe é só técnica, mas é de extrema direita.

Devemos denunciar todas as iniciativas de violência e de racismo sistêmico. Vamos nos organizar e continuar a lutar por um Estado democrático e antirracista.

Acredito que precisaremos construir pontes e redes para que nos mantenhamos dispostos e preparados para um futuro em que nós negros sejamos respeitados. Há muitas iniciativas em São Paulo do que poderemos fazer avançar nossas propostas em defesa da comunidade negra: no campo da cultura, do empreendedorismo, nas políticas municipais, Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa, nos partidos políticos, no Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Estadual entre outras instituições;

As mulheres negras deverão liderar o processo de negociação e de luta em São Paulo, serão elas as principais vítimas do governo estadual. Mais uma vez, elas liderarão a reação da dura realidade que enfrentaremos em São Paulo. Vamos nos preparar para as próximas eleições municipais. Precisamos eleger mais Beneditas (da Sliva), Lecis (Brandão) e Marielles (Franco).

Que os Orixás nos guiem e nos protejam diante do mal.


Ivair Augusto Alves dos Santos:
Possui graduação em Química pela Universidade Federal de São Carlos (1975), Mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (1991) e Doutorado em Sociologia pela Universidade de Brasília (2009), Especialização em Relações Internacionais na UnB (2015).Especialização Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana- ENSP – FIOCRUZ. Atualmente é Executivo Público da Secretaria de Saúde de São Paulo. Publicou 4 livros e 5 capítulos de livros. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Direitos humanos , atuando principalmente nos seguintes temas: Direitos Humanos, Politicas Públicas, Ações Afirmativas, Estudos sobre Africa Contemporânea,Poíticas de Saúde do Trabalhador.

Lembrete: Os comentários não representam a opinião do Clã da Negritude; a responsabilidade é do autor da mensagem.

3 thoughts on “O RACISMO NO RETROCESSO DO GOVERNO PAULISTA

  1. Como eu gostaria de ver essa maior população negra do Brasil ir para a rua ao invés de ficarmos chingando pelas redes sociais. Enquanto não imitarmos as marchas de Martin Luther King e Black Lives Matter nossa indignação não passará de conversa de botequim, infelizmente. Eu estou bem cansado disso de ler matérias com esse teor e não ver alguma forma de reação efetiva de nossa parte.

  2. Parabéns o site está lindo .e acrescento mais que maravilha de texto .
    Real e verdadeiro nosso futuro incerto .Dr.Ivair e ao Clã …Muito sucesso .Preocupante

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