Um ser humano dentro das estatísticas

Ricardo Lima da Silva era um rapaz que se destacava pela sua inteligência contumaz, tinha um senso crítico apurado para questões sociais, políticas e avanço científico. Ainda como um estudante negro entendia muito bem como o racismo nos consome e aniquila a nossa existência. Participou do novembro negro na EACH em 2019 e fez excelentes contribuições junto às mesas de debate e lideranças do movimento negro, salientou o quão difícil é vencer a invisibilidade social, descrédito científico e a pobreza diante do racismo estrutural vivido em todos os espaços, inclusive universitário.

Nas relações interpessoais, sempre foi prestativo, solidário e preocupado com o bem estar coletivo, em momentos delicados tinha uma saída inusitada para situações difíceis e com grande dose de bom humor e leveza de espírito pensava formas de enxergar o mundo através de lentes que vão para além do entendimento pragmático que a academia insiste em nos enquadrar.


Em 2019, Ricardo e fez excelentes contribuições junto às mesas de debate e lideranças do movimento negro, salientou o quão difícil é vencer a invisibilidade social, descrédito científico e a pobreza diante do racismo estrutural vivido em todos os espaços, inclusive universitário.

Assim como tantos outros estudantes pretos, Ricardo era um jovem sonhador que buscava um mundo melhor. As agruras sociais e as injustiças sempre foram pontos de atenção para ele, aproximava-se das pautas e reinvindicações importantes da comunidade a qual pertencia e representava. Ricardo embasado no próprio senso de justiça encerrou a luta conosco e de forma honesta, relatou os enfrentamentos de toda ordem (sociais, políticos, emocionais, psíquicos e tantos outros) dentro desta sociedade racista em que vivemos e diante disso, ele partiu.
Ricardo Lima da Silva

               Não existe uso político desta tragédia que afetou nosso amigo Ricardo, sabemos que a permanência de pretos pobres dentro da universidade sempre será um ato político, assim como a ausência dos mesmos será pauta reivindicatória entre nós! O que se discute aqui são questões para além do imediato, políticas de permanência estudantil, qualidade de vida e bem estar social empenhadas à comunidade preta, pobre historicamente negligenciada. Ao Ricardo desejamos que “Olorum o receba de braços abertos” e aos que ficam desejamos que as dores sejam curadas e que a luta por dias melhores não seja em vão.

São Paulo, 29 de maio de 2021.

Jacqueline Jaceguai Chagas Nunes dos Santos, doutoranda em Mudança Social e Participação Política PROMUSPP pela Universidade de São Paulo (USP – EACH) email: jacjaceguai@usp.br Orientador: Prof° Dr. Marco Bernardino de Carvalho

Lembrete: Os comentários não representam a opinião do Clã da Negritude; a responsabilidade é do autor da mensag

2 thoughts on “Um ser humano dentro das estatísticas

  1. Linda homenagem ao Ricardo!!! Nossa Jacqueline ler esse texto me fez pensar o quão invisível os corpos pretos são e como são tratados? Muita sensibilidade. Que perda para nós. Que fiquemos mais atentos, a pandemia tem potencializado os problemas emocionais e muitas vezes não percebemos quem está precisando da nossa ajuda. Você que o conheceu pessoalmente sinto muito pela perda e pela situação!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial
Follow by Email
Share